O Fim Inevitável

O Brasil está registrando uma média de 1200 mortes por coronavírus por dia. Essa semana os números dessa morte no país passaram de 80.000. Políticas e teorias de conspirações à parte, o assunto que me interessa aqui é a forma como cada pessoa encara o fim inevitável. Eu já queria ter escrito algo sobre isso mas foi só agora que encontrei um gatilho para trazer um tema tão pesado em um blog de swing: meu pet morreu.

A forma como cada pessoa lida com o fim da vida é diferente, mas o que tenho visto desde o começo da pandemia é que aqueles que não conseguem superar uma perda tendem a obrigar quem segue em frente – logo no dia seguinte – a um luto à distância por quem eles nunca conheceram nem sequer viram. Chamam de deboche, desrespeito ou falta de empatia, mas é só medo, de ambos os lados. O medo é tanto que sabemos que vamos morrer um dia mas vivemos como se fôssemos eternos, fugindo da única certeza absoluta e imutável da vida: ela acaba.

E o medo, senhores, faz com que a gente seja capaz de coisas que sequer imaginamos fazer um dia. Tem quem ataque, tem quem fuja, tem quem prefira se jogar; e adivinha em qual grupo muitos swingers estão? Acertou! Até porque já era preciso “se jogar” no desconhecido pra virar um swinger antes da pandemia. (né?).

Desde que começou todo o processo de isolamento, acompanhamos alguns grupos de swingers que decidiram esperar a pandemia passar para voltar a fazer encontros sexuais e estão até hoje mantendo o isolamento social. Do outro lado, muitos casais nunca ficaram um fim de semana sequer sem festar. Ao invés de baladas, imóveis próprios serviram de abrigo para casais e singles que viveram suas vidas como se nada estivesse acontecendo ao redor.

E vamos combinar que o swinger é craque em clandestinidade! Desde a época em que se colocava anúncio em revistas pra conseguir um swing ou quando as primeiras casas de swing começaram a aparecer, o swing sempre viveu à sombra da sociedade. Essa enxurrada de blogs, matérias e um monte de gente (famosos, inclusive) dizendo abertamente que é liberal é coisa muito recente, de uns 3 ou 4 anos pra cá.

Antes disso não tinha swing? Claro que tinha, sempre teve. Você é que não ouvia falar porque tudo acontecia escondido. E toda a cultura swinger nasceu nessa época de clandestinidade: nick de casal (pra ninguém saber quem é você de verdade), festas fechadas (só entra quem for membro ou convidado), casas de swing onde só entram casais, um vocabulário próprio. E olha, galera, eu moro em São Paulo, mas desconfio que em cidades menores o swing nunca deixou de ser clandestino…

Fato é que não estou aqui para dizer o que é certo ou errado. Na verdade, tem uma coisa que eu acho errada sim: é quando eu vejo um swinger que está isolado atacando quem está festando. Ou mesmo quando meu vizinho – que nem é swinger – fica da sacada gritando pra quem anda na rua “fica em casa”, no melhor estilo fiscal da vida alheia. Isso é reflexo do medo que ele sente, e que quem está na rua também sente, só que encara o fim inevitável da vida de um jeito diferente que o dele.

E a base do swing não é justamente respeitar as diferenças? Eu ainda estou muito triste com a morte do meu bichano – às vezes parece que sinto o cheiro dele – mas sou do time de quem usa o medo para seguir adiante, por isso mesmo, aqui estou. Mas isso, amores, sou eu; e seria um absurdo querer que todos encarassem as perdas do jeito que eu encaro. Porque a verdade é que todos somos diferentes mas estamos no mesmo barco; ou na mesma fila, como diz o texto da Lya Luft – que eu achei fantástico e vou finalizar o post com ele.

A cada minuto alguém abandona esse mundo.
Não sabemos quantas pessoas estão na nossa frente.
Não dá para voltar pro “fim da fila”.
Não dá para sair da fila.
Nem evitar essa fila.
Então, enquanto esperamos a nossa vez:
Faça valer a pena cada momento vivido aqui na Terra.
Tenha um propósito.
Motive pessoas!
Elogie mais, critique menos.
Faça um “ninguém” se sentir um alguém do seu lado.
Faça alguém sorrir.
Faça a diferença.
Faça amor.
Faça as pazes.
Faça com que as pessoas se sintam amadas.
Tenha tempo para você.
Faça pequenos momentos serem grandes.
Faça tudo que tiver que fazer e vá além.
Viva novas experiências.
Prove novos sabores.
Não tenha arrependimentos por ter tentado além do que devia, por ter valorizado alguém mais do que deveria, por ter feito mais ou menos do que podia.
Tudo está no lugar certo.
As coisas só acontecem quando têm quem acontecer.
Releve.
Não guarde mágoas.
Guarde apenas os aprendizados.
Liberte o rancor.
Transborde o amor.
Doe amor.
Ame, mesmo quem não merece.
Ame, sem querer receber nada em troca.
Ame, pelo simples fato de você vibrar amor e ser amor.
Mas sempre, ame a si mesmo antes de qualquer coisa.
Esteja preparado para partir a qualquer momento.
Você não sabe seu lugar na Fila, então se prepare para deixar aqui apenas boas lembranças.
Suas mãos vão embora vazias.
Não dá para levar malas, nem bens…
Se prepare DIARIAMENTE para levar consigo, somente aquilo que tens guardado no coração.
Beijosssssssssss
NOTA: As leis existem para que a sociedade não vire um caos e é um dever de todo cidadão cumpri-las, swinger ou não. Com isso quero dizer que você é livre para não cumprir o que bem entende, mas não estará isento de pagar pelas consequências. É como roubar um banco: todo mundo sabe que é errado, alguns roubam mesmo assim e pagam as consequências.
Subscribe
Notify of

3 Comentários
Newest
Oldest
Inline Feedbacks
View all comments
Gato
3 anos atrás

Marina, se só a pessoa sofresse consequência dos seus atos, poderia concordar com você, mas no caso da pandemia e a falta de cuidado com a contaminação, pode levar a doença e a morte para quem não aceitou o risco, inclusive aqueles que atendem quem fica doente, não me parece portanto razoável este pensamento. Estamos todos com saudades de encontros,mas tenho amigos medicos,assim como enfermeiros, e todos os profissionais envolvidos na saude, que para trabalhar estão longe dos filhos, vou guardar a vontade de te ver ,como ja vi ,nas baladas,linda,e tenho certeza que esta experiência de agora vai me… Read more »

Lumax
3 anos atrás

Bela crônica. Sua lista é para ser decorada e praticada. Nos faz pensar e, custa nada dizer, reforça nossa opção pelo mundo liberal, sinônimo de liberdade e vida plena, desde que bem compreendido.

Rodrigo
3 anos atrás

Show, sensacional. Simples assim. Lamento pelo seu Pet!