O Caso da Lista Negra do HIV

Recentemente começou a circular no meio swinger a notícia de que um casal da comunidade foi preso pela polícia e, para esperar pelo julgamento em casa, o homem teria se declarado HIV positivo. Vocês podem imaginar a velocidade com que essa notícia se espalhou em todos os meios possíveis, acompanhada de um texto explicando a história, colocando a mulher do casal também como soropositiva (óbvio, já que eles são casados, como se ela não tivesse chance nenhuma… afff…) e alertando a todos que tivessem saído com eles que procurassem imediatamente fazer exames para ver se tinham contraído o vírus. Para assegurar que todos soubessem de quem se tratava, a mensagem foi acompanhada de várias fotos do casal.

Claro que isso criou uma comoção geral no meio – gente contra, gente a favor, gente que não tá nem aí, gente que se desesperou. Mas o que me chamou a atenção a ponto de escrever um post sobre o assunto, foi o que aconteceu em um dos grupos que participamos. Um dos administradores do grupo recebeu uma suposta “lista negra” de casais que teriam transado com o casal da notícia, portanto, também seriam portadores do vírus. Assim que a história da lista apareceu, diversas pessoas enviaram seus exames no grupo para provar que não tinham nada.

Bom, vamos por partes nesse caso, né, porque tem muita coisa a ser dita – e que precisa muito ser dita! E eu, sabendo da responsabilidade que a grande visibilidade do blog traz, não vou fugir do dever de esclarecer pontos importantíssimos – diria até vitais – para o bom andamento das relações liberais.

É VERDADE?

Eu não conheço as pessoas envolvidas na notícia, então a primeira coisa que fiz foi ler o que os veículos de comunicação diziam sobre a prisão e em nenhum momento foi citado o HIV, conforme a lei. E se eu não conheço o casal nem há informação sobre sua condição de portador, pra mim o assunto morreu ali. Não passei pra ninguém, não comentei com ninguém. Você pode até me dizer: “ah… mas eu conheço alguém, que conhece alguém, que conhece o casal…” Esquece esse telefone sem fio, gente, diz-que-me-diz é fofoca.

É CRIME?

Sim, gente, o caso todo pode ser considerado crime. E pode dar cadeia! A lei nº 12.984 de 2 de junho de 2014 diz que é crime punível com reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa, as seguintes condutas discriminatórias contra o portador do HIV e o doente de aids, em razão da sua condição de portador ou de doente:

V – divulgar a condição do portador do HIV ou de doente de aids, com intuito de ofender-lhe a dignidade.

Além disso, espalhar fake news também pode dar processo. Segundo o advogado Renan Beltrame, atualmente no Brasil não há uma legislação específica sobre a divulgação das fake news. Entretanto, esta lacuna da lei não impede uma eventual responsabilização daqueles que produzam ou repassem essas falsas notícias, ainda mais quando elas são direcionadas a uma pessoa ou grupo específico, com o objetivo de prejudicar sua imagem.

LIÇÕES

1. Usar preservativo sempre! É a tecla que batemos aqui desde que começamos a escrever o blog! Até porque, cada um é responsável por si e na hora da transa, por mais que esteja numa suruba, cabe às pessoas envolvidas fazer uso do preservativo antes da penetração. E se o cara é daqueles que murcham com camisinha, faz o favor de treinar em casa antes de querer comer todo mundo sem proteção.
2. Traição no swing não acontece apenas entre os casados, mas pensem que quem quer que seja que espalhou a tal da lista negra é alguém bem próximo – se duvidar, alguém que dá tapinhas nas costas e chama de amigão – dos nomes da lista. Não é porque somos mais liberais ou somos bonzinhos que todo mundo também vai ser. Existe uma boa dose de ingenuidade quando se começa no swing, porque se abre a possibilidade de viver uma vida mais honesta. Porém, o swing é feito de pessoas, e onde tem pessoas, tem de tudo. Ao entrar no mundo liberal, seja feliz, não ingênuo.
3. A falta de conhecimento mata! Neste caso, pode dar multa, dor de cabeça, quem sabe até prisão! Então, meus amores, evitem ser taxados de ignorantes e procurem saber exatamente o que se trata qualquer coisa que lhes é passado. E se não puder chegar à verdade, de fato, não repasse!! Até porque, mesmo que o caso citado seja verdade, que diferença isso vai fazer na sua vida?
4. Exames não provam nada. Coisa mais fácil do mundo é pegar um papel e dizer que o exame é seu, basta ter um pouquinho de conhecimento de informática pra saber disso. O negócio é cuidar de si independente do que o outro diz, pede ou mostra.
5. Discriminação e preconceito. Esses dias passou na TV a notícia da morte do Asa Branca. …era portador do HIV há 20 anos; morreu de câncer. Se ele morreu de câncer, qual a razão de contar em rede nacional que era soropositivo? Por outro lado, me fez pensar que ninguém anda por aí com um aviso na testa. Duvido que ele não tenha transado nem uma vez em 20 anos… (né?). “Ah, Marina… se for verdade que o casal x tem HIV eu nunca vou transar com ele, nem sair com ele, nem fazer churrasco, nem nada.” Pois eu vou te contar uma verdade que pode doer: você já deve ter transado com algum soropositivo e nem sabe!!!!! Ainda mais se for antigo no swing. Se cuidou? Usou camisinha? Faz os exames regularmente? Pois é…

Beijosssssssssssss

PS: Na lista tinha um Ma e Má. Eu morri de rir antes mesmo de saber que não éramos nós, porque de tantas mentiras que contam sobre a gente, só faltava essa!!!