Ah, o Jorge…

“Vênus, e seu aroma de alfazema, nos envolveu na atmosfera brumosa de um mar que cintilava a sexo. Nos beijamos, os lábios de Jorge tatearam os meus lábios, dali um tremular seguindo o contorno encarnado da boca, e o singelo gesto de arquear os lábios, quase que nem um bocejo, para então abrir passagem à língua. A ponta avança tal qual a comissão de frente de uma escola de samba, invade a passarela, e apresenta uma breve resenha do que está por vir. Luxo, lustro e boas-vindas, e lá vem toda a estrutura, estilo-genioglosso, saliva, mucosas sondam a outra nova e entregue boca. O encontro, enfim, o encontro das línguas.
Um ar fresco entra pela janela da sala, a noite solta a bruma de águas revoltas, salitra. Lamúrias retardatárias de uma colombina. São Paulo é uma praia deserta, e ele me beija na busca de dobras, vincos, e penetra em seu ritmo sincopado, nos movimentos pulsantes dos músculos da sua língua. Acompanho. Bossa, breque, bandolim, e eu que estive a pensar o sentido das coisas, agora sou uma passista equilibrando o que tenho dentro da boca com o que tem dentro da boca de Jorge. Febre e torçuras, nos engolíamos, enquanto ele me segurava pelo cabelo. Por último, Jorge buscou as minhas mãos e as trouxe até o meu pescoço, apertava-as como se me pedisse para que eu mesma me tocasse. Toquei-me, e ele liberou o zíper do vestido encarnado, o sutiã vermelho saltou contrastando sobre a pele alva. Saca? Depois, passou a beijar-me o colo, a abocanhar a renda da roupa íntima, a brincar com o pingente dourado que adornava o tecido entre os seios, passava a língua e o puxava em pequenas mordeduras. Eu conjecturava, o sutiã não iria aguentar as investidas dos dentes e músculos de Jorge. Posso falar a verdade, Hay?, eu mesma não aguentaria, ainda mais depois daquele ato de fúria em que ele arrancou tudo que me cobria a pele em ato selvagem. Pegou o sutiã com as duas mãos e rasgou o tecido bem na altura do pingente, e o meu corpo se entregou as vicissitudes da alma, ao uivo da ostra, aos pequenos rangidos das mucosas em colisão. Nunca desejei tanto que uma língua me tocasse o bico enrijecido do seio. Mas Jorge tem o jeito dele, você sabe Hay, Jorge não avançou de imediato, me deixou ali, no sofá, com os seios clamando por sua língua, enquanto as milhões de moléculas do meu corpo se inundavam, tudo em mim agora estava úmido, tudo em mim ovulava por mais violência. Jorge, imóvel, olhava meus mamilos, e seus movimentos em câmera lenta me sufocam de tal forma que não poderia mais sobreviver aquele estado de latência, se caso ele não me possuísse naquele momento. Era isso Hay, queria ser possuída por ele, sem ternuras, nem afagos, dentro desse jogo de avidez e de sombras, em que a morte luta contra a vida, ou a vida luta pela própria vida. Sigo o fluxo da corrente que corre a minha medula e, ele então se apodera dos meus cabelos, e nas mãos desse homem, de mil e tantos metais, aspiro líquidos, absorvo vozes e digo ladraduras. Sim, Hay, trepamos, trepamos por horas e vejo Jorge desvelar toda a ancestralidade de suas Áfricas, desmontar seus vários instrumentos de ferro sobre meu ventre, me deixando sem ter mais o que fazer senão envolvê-lo nos meus braços. Juntar suas lascas de pedra contra meu peito, e então escuto ele me dizer, “late, late agora”. Sim Hay, seria possível eu me assustar com aquele pedido, agora ao vivo, na face do meu ouvido, mas não, era o que tinha que ser, eu a mulher-cadela.
Dali passamos ao quarto, e aquele corredor com três entradas se fazia extenso à nossa frente. Poderia eu dizer que caminhamos lado a lado, e que nos beijávamos como dois adolescentes de sangue diabólico em busca do paraíso. Mas do que me adiantaria mentir para você Hay, se o que aconteceu não foi nada disso. Do sofá, Jorge me puxou pelo cabelo, fui ao chão, com as quatro mãos espalmadas e dali segui como um bebê que ainda não aprendeu a andar. Atravessei a porta da sala, ele me conduzia agarrado aos meus cachos. Por um momento, tentei me desvencilhar de suas garras, mesmo sem nada dentro de mim pedir uma posição diferente daquela que me encontrava. Jorge foi irredutível, permaneceu na mesma postura de quem sabe bem o que faz. Não ousei mais teimar. Eu, a mulher-cadela, inundada de um veneno fatal, empinava a bunda para exibir meu cu excitado. Não me passou mais pela cabeça a ideia de erguer o corpo, de sair daquela posição de quatro patas e agir diferente do que uma cachorra no cio. Engatinhei pelo corredor seguindo as pernas de Jorge, e ele me pedia apenas para latir, o que eu sem entender bem, fazia sem questionar. Ladrava, au, au, au…, saca? Ah Hay, você sabe como é, a vida sempre te coloca em apuros, e você tem que escolher. Ou segue firme na mesma direção removendo tudo que está fora do roteiro programado, ou se arrisca a novas experiências e adapta os desejos e sonhos conforme as vontades que surgem. Saca? “

 

Gostou? Conheça mais sobre a escritora Carla Cunha.

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4 Comentários
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4 anos atrás

Delicia

Black
5 anos atrás

Muito bom a despeito de ter uma imensa semelhança com 50 tons de cinza, a meu ver

Morenão
5 anos atrás

Sinceramente? Prefiro os seus contos. Acho o estilo um pouco pretensioso demais. Desculpa Carla, não se ofenda! Só uma opinião construtiva.

Casal TT
5 anos atrás

Ah o Jorge… Rsrsrsrrs e nos aqui loucos pra saber se era o Jorge e a Marina. Vlw a dica da escritora.