Ultimamente muito tem se falado sobre uma certa cultura do estupro que existiria automaticamente no Brasil e vocês vão concordar comigo que algumas coisas fazem sentido, outras nem tanto. Eu mesma nem iria tocar nesse assunto aqui no blog por não concordar com essa expressão – não acho que exista uma cultura por trás do estupro, apenas pessoas que acham que podem fazer o que querem com quem querem.
O Caso
Acontece que esses dias estava eu na balada liberal, de boa, conversando com o Marcio. A gente estava no salão ouro da Hot Bar, bebendo e comendo, quando um cara que estava saindo da pista passou a mão no meu bumbum. Olhei pra ele e ele continuou andando, como se não tivesse feito nada, não teve nem a decência de me olhar e fazer qualquer tipo de paquera – eu, pra ele, era só um objeto que ele resolveu tocar.
Achei um absurdo e comentei com o Marcio “olha, aquele cara ali passou a mão em mim” e ficamos acompanhando a trajetória do cidadão: ele saiu da pista, foi até o balcão do bar, virou pra esquerda, andou até o final do corredor e virou à direita, em direção ao reservado. Nesse trajeto ele passou a mão no meu bumbum, na perna de uma funcionária, no braço de outra cliente, na perna de outra cliente… e todas as mulheres tiveram exatamente a mesma reação que a minha: olhavam pra ele com aquela expressão de “epa! que palhaçada é essa?”.
Não necessariamente pela passada de mão, mas pela atitude de desprezo que ele demonstrava em cada toque. Oras, tem gente que realmente acha que quem vai numa casa de swing é porque está afim de sexo. Sim, concordo; mas não com qualquer um. Tem que haver uma certa atração entre as pessoas, mesmo porque, já perdi as contas de quantas vezes passaram a mão no meu bumbum e eu achei legal, porque existe um propósito nesse toque – a pessoa que me pega está realmente afim de ter algum tipo de envolvimento comigo e eu me senti desejada. No caso em questão não houve desejo, não houve propósito, houve uma falta de respeito e eu me senti uma boneca inflável.
Configuração de Crime
Todas as partes envolvidas no sexo – ou preliminares, como os toques – precisam estar em consenso com o que vai acontecer. Quando não há consenso, ou seja, quando uma das partes não quer ser tocada ou não quer fazer sexo e a outra parte faz mesmo assim, já existe uma configuração de crime de abuso ou estupro. Não, gente, não estou exagerando; na verdade é um assunto muito sério pra deixarmos dúvidas. E ao mesmo tempo é muito simples de entender: se a outra pessoa não quer, não faça. Se a outra pessoa não deixou, não faça. Se a outra pessoa não foi clara no que ela quer de você, não faça. Resumindo: Não é não, e não se discute!
Então como é que eu vou saber quando uma mulher tá afim de sexo? Começa pelo olhar: ela te olha, você olha pra ela, rola uma química, chega pra conversar. Pela conversa dela, pelo que ela diz, pelo que ela gosta e não gosta. E mesmo assim, se chegar na hora H e ela desistir, você, homem ou mulher, tem a obrigação de parar tudo porque já não é mais consensual. Sacanagem quando uma mulher faz de tudo pra seduzir e desiste na hora do vamos ver, né? Sim, concordo totalmente! E também é uma sacanagem quando alguém não respeita a decisão da mulher, seja a hora que for.
Cultura ou Falta de Cultura?
Mas eu também não preciso dizer que não são todas as mulheres que fazem isso, bem como não são todos os homens que não respeitam a mulher. É por isso que não concordo muito com a expressão ‘cultura do estupro‘; acredito que está mais para a falta de cultura de alguns indivíduos* que não sabem como se comportar em sociedade, seja na rua, seja na casa de swing, seja onde for.
Quer saber como terminou a história com o cidadão abusado? O Marcio chamou um segurança da casa de swing e foi atrás do cara, deram uma enquadrada nele (tipo primeiro aviso) e não o vi mais naquela noite. Não sei se foi embora, não sei se continuou dando uma de malandro; mas não passou em branco. Se você for vítima de algum espertinho assim dentro de uma casa de swing, chame um segurança e conte o que aconteceu. É dever de todo cidadão de bem cuidar da sociedade em que está inserido, mesmo que seja uma sociedade liberal.
Beijosssssssss
*os casos patológicos estão descartados neste texto
Encantada!!!
Conheci o blog está semana e não me canso de ler suas postagens.
Parabéns pela clareza de ideias e pela inteligencia com que conduz temas tão presentes em nossas vidas (e imaginário tbm kkkk) e que ao mesmo tempo são rodeados de preconceitos.
Obrigada por compartilhar suas experiências e sua visão de mundo.
Bjos
Oi Luciana, obrigada pelo feedback! Beijossssss
Perfeito, casal. =)
vida longa ao prazer e a razão também.
sem dúvida, devemos olhar para as duas pontas, que se relacionam, do problema: o indivíduo e o meio.
beijos!
Parabéns pelo texto, casal. Apesar de discordar em parte do texto, quando questiona a “cultura do estupro”, é no geral mais um excelente serviço prestado ao universo liberal. Acredito sim que existem diversos outros valores, práticas e instituições que implicitamente acabam autorizando o estupro. Por exemplo, ouçamos o disseminado e recorrente: “a única mulher de verdade, que merece respeito, é a recatada” – esse discurso que se apresenta apenas como “mais um ponto de vista garantido pela liberdade de expressão” é o mesmo que vai dizer para a vítima: “pois é… com essa roupa… nesse lugar.. nessa hora… queria o… Leia mais »
Anonimo, excelente contribuição! Sem dúvida alguma existem inúmeras instituições e/ou filosofias que sustentam ideologicamente não só o estupro, mas também diversas outras práticas que atentam contra o ser humano. Nós mesmos, Marina e Marcio, conseguimos “escapar” de várias delas! Uhuuuu! A minha visão no texto, de transferir a responsabilidade para o indivíduo, vem da formação psicológica. Por acreditar que cada pessoa é responsável por si, seus atos e sua vida, assim como é responsável por definir que tipo de instituição seguir ou em quais filosofias se apoiar. Bem como acredito que todo o ser humano tem condições de mudar (exceto… Leia mais »
Excelente texto, uma abordagem bem diferenciada. Pois, ao se falar em estupro sempre vem aquele assunto de que a mulher é culpada por determinados comportamentos. Concordo que o estupro nada mais é que a falta de cultura de uma pessoa com falta de base moral.
Arrasou mais uma vez, trazendo sempre temas diversificados e de forma clara.
Há braços!