Traição no Meio Liberal

E lá vamos nós para o assunto mais doloroso que existe na vida: traição no meio liberal. Pois a traição já é esperada no contexto da monogamia, entretanto, quem vai para o swing espera mais honestidade nas relações. Não estaríamos replicando o mesmo “acordo não dito” que há na monogamia?

Quando casamos e dizemos “prometo ser fiel na saúde…” sem pensar de verdade no que estamos prometendo, apenas reproduzimos o que todo mundo faz. E quando entramos no swing e esperamos que as parcerias não nos traiam sem deixar isso claro, continuamos não falando nem deixando claro quais são os acordos. Em outras palavras, ainda somos essencialmente monogâmicos, replicando a mesma política do silêncio, do implícito, do “é óbvio”.

Nada é óbvio no meio liberal

Cada casal tem suas regras, cada pessoa tem seu modo e seu tempo de “virar liberal”, cada caso é um caso, mesmo quando estamos falando de traição. Lembrando que até podemos ter um menor índice de traição no meio liberal, mas enquanto houver deslealdade no mundo, ela poderá acontecer.

Há casais liberais que traem compulsivamente, mas para eles isso faz parte de ser liberal. Tem single que trai a parceria PB no liberal, tem gente que vende festa que não existe, tem gente que anda de ferrari alugada… nada é óbvio no meio liberal, nem mesmo a traição. É preciso aprender que pessoas vão agir como pessoas em qualquer ambiente, mesmo no liberal onde a liberdade e a honestidade são a base de tudo.

Lealdade x Fidelidade

Essas três palavrinhas – traição, lealdade e fidelidade – podem ser sinônimos mas não tem o mesmo significado.

Lealdade é baseada em emoções, enquanto fidelidade é baseada na razão. Dessa forma, por mais estranho que pareça, é possível ser leal mesmo sendo infiel. Depende muito do significado que damos às palavras, por exemplo, se acreditamos que infidelidade se relaciona apenas com a sexualidade, então o meio liberal está cheio de leais infiéis.

A palavra lealdade também pode ganhar significado extra nesse contexto – já que concordamos em ter relações sexuais com outras pessoas, infidelidade é exigir, de forma implícita ou não, exclusividade sexual. Complicou? Vamos de exemplo:

Fidelidade: quem nunca teve um cartão fidelidade no banco, naquele restaurante que vai sempre, nunca ganhou um carimbo no card da cafeteria? Você acaba sendo fiel porque, de alguma forma, vai receber algo em troca. (Princípcio religioso, lembra? Sempre tem uma recompensa no final…)

Lealdade: continuo com a conta no banco, vou no mesmo restaurante de sempre e sou cliente da cafeteria mesmo quando não tem um carimbo, desconto ou cartão black. Tem a ver com o que eu sinto (emoções) não com o que eu ganho (razão).

E onde entra a traição?

Na quebra da confiança. Por algum motivo, eu não confio mais no banco, não confio mais na comida nem no café. Começo a frequentar outros lugares, abrir conta em outros bancos e me sinto muito melhor fazendo isso do que onde estava.

PARÊNTESES: É por isso que a visão sobre o “traidor” está sendo revisitada por grandes pensadores. A ideia de que a culpa da traição nunca é só de uma pessoa já é bem difundida, mas ainda há a necessidade de destruir a vida de quem trai, provavelmente por conta da dor quase insuportável que o traído sente. Mas vou parar por aqui pois este é um assunto para o qual ainda não estamos preparados…

Todo mundo trai

Não posso terminar esse post sem falar sobre os tipos de traição, porque sempre achei um absurdo essa supervalorização do sexo e ninguém nunca se “incomodar” com a traição financeira, contratual, empresarial, de amizade, de abuso, de desrespeito, por impulso, por vingança, virtual… ou vocês acham mesmo que uma relação onde um parceiro começa a fazer manipulação psicológica não é traição?

• É traição: quando assino contrato para representar uma empresa e vou na concorrente contar tudo foi dito na reunião;
• É traição: quando minha melhor amiga sai contando aquela conversa íntima que eu pedi pra não contar pra ninguém;
• É traição: quando eu salvo todos os contatos do grupo de whatsapp da minha parceria e começo a fazer lista de transmissão no privado – que é pra parceria não miar, claro!

Tá vendo como traição é comum, todo mundo faz mas só a sexual é supervalorizada? Agora é que são elas: por que só a sua dor importa? Quando você traiu (e certamente você já traiu alguém de alguma forma nessa vida), você acha mesmo que ninguém ficou chateado só porque não foi uma traição sexual? Porque a sua dor é mais importante do que a dor de quem foi traído por você?

Traição é ser desleal e infiel com aqueles que confiaram em você.

Marina Rotty

A traição no meio liberal ensina

Aprendi com a traição no meio liberal que a fidelidade não se compra e a lealdade não se força. Também aprendi com a traição no meio liberal que a dor de ser passado para trás é horrível. Tão forte que o traído leva anos para se reconstruir como pessoa. Essa dor deixa a gente cego, e não enxergamos o quanto já fomos responsáveis pela dor dos outros.

Se todo mundo já traiu, todo mundo já foi traído. O melhor conselho que eu posso te dar é perdoe quem te traiu, perdoe a si mesmo e siga em frente. Quanto mais remoer a dor, mais ela vai viver aí dentro. Dá pra viver uma vida muito boa e feliz depois de uma traição, mas você quer? Quer mesmo deixar o passado no passado e seguir em frente? Ou a sua dor é tão mais importante que a dor do outro que você não consegue se desligar dela?

Beijosssssssssssssssss