Uma mulher criou perfil no Tinder e na descrição escreveu que era mãe, entre outras coisas. Segundo ela, isso era um experimento para mostrar o quanto as mães solteiras são discriminadas por estarem em busca de um parceiro. A forma como ela foi tratada por alguns homens é chocante e chamou a minha atenção para um assunto que até então, me parecia muito normal. Mas que na verdade, não é não, nem mesmo no swing.
Quando uma mulher vira mãe, parece que ela se torna uma espécie de santa: não come, não dorme e faz milagres! A sociedade coloca as mães num pedestal – sabiam que o dia das mães só perde para o natal em compras? Mãe que é mãe não erra, sabe de tudo, faz profecia (que se cumpre, incrível!). E claro, mãe que é mãe, não faz sexo – mãe não tem boceta, não chupa rola nem dá o cú. Quem faz isso é mulher da vida.
Isso é o que a sociedade diz, né? Agora vem comigo, raciocina comigo e vamos encontrar um problema gigantesco aqui: só pode ser mãe quem é mulher, e só pode ser mãe quem tem vida. Logo, toda mãe é uma mulher da vida!* Uma pessoa que não entende o esquema dos papéis sociais pode ter muita dificuldade em entender que um ser humano pode exercer funções variadas sem que uma anule a outra.
Uma única pessoa pode ser mulher, mãe, filha, profissional e faxineira. Geralmente a gente exerce muitos mais papéis do que isso, tanto mulheres quanto homens. Esse jogo de identidade é natural, faz parte da vida de todo mundo.
O ‘papel mãe‘ já começa com sexo. Aliás, só existe mãe porque a mulher fez sexo, né? O período de gestação mexe com a libido da mulher, muitas vezes a vontade de fazer sexo aumenta nos meses em que carrega o filho. A criança nasce pela vagina e é alimentada pelos seios. Todo o processo maternal está intimamente ligado ao sexo. Então porque nos incomodamos quando vemos grávidas em casas de swing? Ou porque é impossível imaginar sua mãe transando com alguém?
Elementar, meu caro leitor. Porque em momentos como esse, elas estão exercendo mais do que um papel ao mesmo tempo. Explico: quando você vai à praia, não usa terno nem leva papelada de escritório, porque ali, naquele momento, você está no papel de descanso. O mesmo acontece quando tem que ir ao escritório, ninguém vai de havaianas e bermudão, porque naquele momento, o papel a desempenhar é o de profissional.
Nunca vi um casal que fizesse sexo na frente dos filhos, porque o papel de pai/mãe contrasta com o papel de amantes. Por isso sentimos estranheza quando vemos pessoas misturando papéis sociais. Isso não quer dizer que é errado, nem certo. O fato de não concordar com as atitudes dos outros não dá o direito de xingá-lo, maltratá-lo e humilhá-lo, que foi o que aconteceu com a mãe no Tinder.
Ela foi xingada, foi julgada de estar procurando macho ao invés de cuidar do filho, foi julgada por estar solteira e tantos outros absurdos. Mas naquele momento ela não era mãe, ela era mulher! Com as necessidades e complexidades que qualquer outra mulher teria, incluindo as mães dos acusadores. É como eu aqui no blog. Sou filha, sou mãe, sou esposa… mas quando estou escrevendo sou só a Marina do blog. Em muitos momentos do meu dia eu sou apenas mãe, e em outros tantos, sou apenas esposa. E no swing sou apenas uma mulher que gosta de sexo.
“Ser mulher não é fácil. Ser mulher e mãe, menos ainda. Ser mulher, mãe e reivindicar uma vida social fora dos padrões patriarcais, é enlouquecedor.” Fernanda Teixeira. Eu complemento dizendo que reivindicar uma vida sexual fora dos padrões é libertador. Ninguém precisa saber pra quantos você deu ou quais as posições que você prefere, o importante é que você, mulher e mãe, separe tempo para exercer papéis de descanso, de diversão, de férias, de amor-próprio. Sem esses papéis, não há vida: é pura escravidão.
Beijossssssss
*excluindo o sentido figurado do termo
Estou grávida e quando descobri foi muito frustrante. Estávamos praticando swing e menáge há 8 meses quando engravidei. Nos primeiros dois meses não queria nada. Agora estou procurando relatos de grávidas em casas de swing pois meu tesão retornou em dobro. Estou muuuuuuito tarada. Enlouquecida. E estou com medo de ser mal vista…
Milady, um dos “segredos” do swing é a possibilidade de fazer o que quer, quando quer, com quem quer. Só quem sentiu o tesão da gravidez entende o que vc está passando, e na boa, tem fantasia pra tudo! É claro que não é comum vermos mulheres grávidas em casa de swing, até porque muitas de nós temos queda de libido nessa fase. Mas é vc que decide, também não é legal sentir que os outros ficam te olhando estranho. Lembrando que existem outras opções além das casas de swing: sexo pela cam (nem precisa mostrar o rosto), marcar encontros… Leia mais »
Sou divorciada, desde que minha filha tinha 5 anos, sinto que inconscientemente optei por se mãe durante 15 anos, mas não deixei de ser mulher todas ás vezes que tive a oportunidade, mesmo contrariando padrões pré estabelecidos.
Cada uma de nós é que sabe se deve abrir mão de alguma coisa e até quando. Hoje me sinto livre para fazer o que eu achar melhor para mim.