Adeus…

Sempre me indignou o fato do brasileiro pouco reconhecer àqueles que muito fazem por alguma causa. É bom lembrar que o swing também é uma comunidade, com cultura e história, e que tem muita gente trabalhando por trás de tudo isso que a gente acessa hoje. Perdemos uma dessas pessoas tão importantes para nossa comunidade esta semana e o site Marina&Marcio, como um veículo de informação do swing, faz uma pausa nas suas atividades regulares para homenagear Richard, do casal Richard e Suellen.

Desde o século passado que esse casal tem difundido o swing no cenário brasileiro, promovendo festas e organizando encontros de casais. Muito simpáticos e populares, Richard e Suellen conquistavam qualquer pessoa com sua alegria irradiante. Lembro a primeira vez que vi Suellen numa casa de swing: dançava nua, no balcão. O corpo perfeito, cheio de curvas; os cabelos loiros e longos; o sorriso cativante… impossível não olhar pra ela!

Quem tirava um tempinho pra conversar com o casal logo entendia o quanto eles eram apaixonados um pelo outro e pela vida que levavam. Era fácil perceber também o quanto eles se importavam com o bem estar de quem começava no swing, sempre cuidando, sempre chamando para interação, sempre integrando. Pra quem não os conheceu, imaginem que no nosso começo éramos chamados de “Richard e Suellen 2″, como se o que fazemos hoje desse continuidade ao que eles começaram.

Em 2014, Richard e Suellen deram uma entrevista para o jornalista Marcos Nogueira, enquanto ele preparava seu livro sobre o swing “A Sociedade Secreta do Sexo”, de onde extraio o texto abaixo:

“Ao mesmo tempo em que popularizava o swing na zona rural (festas em chácaras), Richard ajudou a criar a cena liberal da maior cidade do país. Numa das noitadas na boate Saint Paul, ele ficou sabendo da existência de um lugar chamado Cervejaria Samantha, na avenida Miruna, em Moema. A casa, embora não possuísse as instalações típicas de um clube de swing, foi a primeira da cidade, de funcionamento regular, a receber quase que exclusivamente casais liberais.

Richard e Suellen passaram a frequentar a Samantha e se tornaram amigos do dono, Luigi. (…) Fez tanto sucesso que Luigi decidiu montar em 1992 uma outra casa dedicada ao swing, desta vez com quartos para os casais se divertirem. Richard, que com sua simpatia já havia feito amizade com todo mundo no circuito, fora encarregado de fazer a divulgação do clube. O ponto da Bon Vivant (…) repetiu o sucesso da Samantha, que inspirou Luigi mais uma vez a pensar em expandir seus domínios, novamente com a ajuda de Richard. Cerca de um ano mais tarde, ele arrendou por um mês a Marrakesh. Em funcionamento desde os anos 1980, a Marra era um tipo de lugar em que casais clandestinos e semiclandestinos se aproveitavam da escuridão para namorar em paz. (…) Foram Richard e Luigi que introduziram o swing naquelas dependências.”

A última vez que nos encontramos foi na festa à fantasia da Imperium, ano passado. Eles sentaram na mesa ao lado da nossa, conversamos um pouco, mas era nítido que alguma coisa não andava muito bem. Ficaram sentados a maior parte do tempo, levantando somente para cumprimentar alguns amigos; Richard exibia sinais de fraqueza devido à luta que enfrentava contra a doença, que enfim, o venceu.

Richard fez swing, fez amigos, fez negócios, fez história. Impossível falar de swing no Brasil sem mencionar Richard e Suellen, ícones do meio liberal, inspiração para muitos casais, amigos para quem precisava. Em nome de toda a comunidade do swing, MUITO OBRIGADO. Vá em paz.