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Vida Liberal, Vida Clandestina

Toda vez que eu abro uma caixinha de perguntas no Instagram recebo dezenas de perguntas interessantes. E um montão de perguntas sem noção também, mas a gente não dá bola pra elas, né? (rsrsrs). Nesta semana recebi um comentário em forma de desabafo que merecia mais do que um story de resposta: merecia uma postagem inteira! Olha só:

Por que parece que a sociedade prefere o padrão de infelicidade do amor-posse? O que vivemos como casal liberal deveria ser a regra. Essa “clandestinidade” um dia acaba? Que bom que vocês estão exibindo o que somos!

A minha resposta instantânea foi:

Nossa clandestinidade acabou ano passado.

Também não vejo mais essa clandestinidade como um fator ‘do outro’. Hoje, depois de passar pela experiência de assumir o swing na minha vida, é muito mais claro enxergar o quanto ser swinger é um problema meu e não do outro, por mais que o outro não aceite minhas escolhas.

Claro que, no nosso caso, não houve prejuízo por causa do swing. Não perdemos os empregos, nossa família ficou mais unida e até nossos pais – que fizeram drama no começo – já estão nos vendo como seres humanos novamente. Nossa saída da clandestinidade do swing foi muito positiva.

PARÊNTESES: a única “perda” que consigo enxergar é ter sido expulsa da religião. E já coloquei entre aspas porque a cada dia que passa eu encontro fanáticos religiosos que são verdadeiros agentes do mal. Nunca vi tanto ódio disfarçado de “mensagem do Senhor”. Na boa, não foi perda, foi ganho!!

Mas não é assim pra todo mundo…

E quanto mais eu penso que nem todo mundo pode se dar ao luxo de arriscar um emprego ou família – que são a base da estrutura emocional da gente – mais eu concluo que tudo depende de como cada um encara a própria vida.

Eu poderia ter olhado para minha experiência de outro jeito e encarado tudo como perda. Perdi meus amigos, perdi minha dignidade, poderia sentir vergonha do meu corpo sendo exposto por aí, poderia chorar porque meu cabelo quebrou ao meio, porque perdi três unhas do pé, porque meus pais não falam comigo, porque fui expulsa da comunidade, porque me bloquearam, mi… mi… mi…

Interessante perceber que quando falamos sobre sociedade, rola a tendência de nos exlcuir dela, como se fôssemos ET´s (superiores, mais felizes, mais evoluídos). Mas o fato é que nós também somos ‘a sociedade’ e talvez a gente não tenha que se excluir, mas sim, buscar nosso direito como parte dela nos incluindo nela cada vez mais como opção tão viável de relacionamento quanto qualquer outra.

Talvez a gente (os swingers) tenha feito tudo errado até hoje, querendo esconder o que fazemos, aumentando o estigma, alimentando que swing é errado. Afinal, quando a gente erra a gente esconde e não fala nada pra ninguém, né?

E quando eu observo outros casais morrendo de vontade de assumir a vida liberal, morrendo de vontade de soltar a verdade, de viverem uma vida mais compatível com as suas crenças, penso que somos nós mesmos, os swingers, que criamos essa clandestinidade na qual nos prendemos.

Estamos presos segurando a chave da prisão, com toda força, em nossas mãos. Marina Rotty.

Luz sobre o swing

Não existe melhor forma de combater a clandestinidade do swing do que jogar luz sobre o que é diferente porque quando fazemos isso, nos tiramos do apagamento social, reivindicamos nosso espaço como cidadãos. É colocar mais um ponto na comunidade a ser considerado. Não é sobre ser o melhor estilo de relacionamento, mas sobre ter mais que um estilo de relacionamento.

E isso nós, Marina e Marcio, não faremos sozinhos. Nem nós, nem ninguém. É um que sai da clandestinidade aqui, outro que sai da clandestinidade lá, e quanto mais pessoas abrirem as portas das prisões nas quais elas mesmas se colocaram, menos clandestino o swing será.

Esse post não é um convite a chutar o pau da barraca e sair do armário. Não, amore. É, na verdade, um convite à reflexão. Olhe para a chave que você segura com tanta força e pergunte-se: o que me falta para abrir a porta?

Beijosssssssssssssss

 

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